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Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Etel Adnan

Etel Adnan nasceu em 1925, em Beirute, Líbano, e cursou escolas francesas. Estudou filosofia na Sorbonne, Paris. Em 1955, foi aos Estados Unidos para fazer pós-graduação em filosofia em Berkeley e em Harvard. Baseada em seus sentimentos de solidariedade para com a guerra de independência da Argélia, resistiu às implicações políticas de escrever em francês e voltou o foco de sua expressão criativa para a arte visual: tornou-se pintora. Mas, devido à sua participação no movimento de poetas contra a guerra no Vietnam, escreveu poemas e passou a ser, em suas palavras, “poeta americana”.

Em 1977, seu romance Sitt Marie-Rose foi publicado em Paris, e ganhou o prêmio France-Pays Arabes. Traduzido em mais de dez línguas, o livro tornou-se um clássico da Literatura de guerra. Em 1977, Adnan voltou à Califórnia, com frequentes idas a Paris.

Etel Adnan escreveu para o teatro: Like a Christmas Tree (2003); Proximité et éloignement de la mémoire; Sitt Marie Rose (2009); Crime of Honor (2011) etc.

Obras em inglês: Moonshots, Beyrouth, 1966; Five Senses for One Death, The Smith, 1971; From A To Z, The Post-Apollo Press, 1982; Sitt Marie-Rose, Translated from the French by Georgina Kleege, The Post-Apollo Press, 1982; The Indian Never Had A Horse & Other Poems, Illustrated with etchings by Russell Chatham, The Post-Apollo Press, 1985; Journey to Mount Tamalpais, The Post-Apollo Press, 1986; The Arab Apocalypse, Translated from the French by Etel Adnan, The Post-Apollo Press, 1989; The Spring Flowers Own & The Manifestations of the Voyage, The Post-Apollo Press, 1990; Of Cities & Women: Letters To Fawwaz, The Post-Apollo Press, 1993; Paris, When It’s Naked, The Post-Apollo Press, 1993; There: In the Light and the Darkness of the Self and of the Other, The Post-Apollo Press, 1997; In/somnia, The Post-Apollo Press, 2003; In the Heart of the Heart of Another Country, City Lights Books, 2005; Master of the Eclipse, Interlink Books, 2009 (Winner of the PEN Oakland Award, 2010); Seasons, The Post-Apollo Press, 2008; Etel Adnan: On Love and the Cost We Are Not Willing to Pay Today: 100 Notes, 100 Thoughts: Documenta Series 006, Hatje Cantz Verlag, 2011; Sea and Fog, Nightboat Books, 2012; Homage to Etel Adnan. The Post-Apollo Press, 2012.

Cf.: http://www.eteladnan.com/.

Etel Adnan at the Pacific Ocean

Photo by Simone Fattal

LEITURA DE POESIA

Sibila: Você lê poesia? Que poesia você lê?
Etel: Costumo ler frequentemente minha poesia em público. Qual é o gênero do que escrevo: sou de origem libanesa, mas de nacionalidade norte-americana; vivi na Califórnia a maior parte de minha vida. Uma vez que o mundo árabe, de onde eu vim, vez e outra está em guerra, não tive como ignorar esta situação. Dessa forma, posso dizer que, de algum modo, é a História quem escreve minha poesia. O livro em que esta situação é mais evidente chama-se The Arab Apocalypse, L’Apocalypse Arabe, e é desse livro que muitas vezes leio trechos.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Etel: Acredito que tudo aquilo que se faz tem impacto, em todos os domínios. A poesia comove (impressiona) as pessoas mais que qualquer análise política ou psicológica.

ESCRITA DE POESIA

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Etel: Ao escrever poesia viso, principalmente, a tornar mais claros meus próprios sentimentos e meus próprios pensamentos. Há algo na escritura que não é oral, evidentemente. Escrever é como assinar: é se empenhar primeiro consigo mesmo e, claro, com o leitor.

Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia? Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Etel: A poesia exerce um efeito sobre as pessoas, um efeito que não é espetacular, mas profundo. Ela obriga-as a ouvirem o poeta, mas também a se ouvirem a si próprias. A poesia sacode as pessoas, as desestabiliza. É um efeito salutar.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Etel: Para escrever poesia, muitas vezes é preciso estar só. E ter coragem, pois vai-se frequentemente até o fundo das coisas, quero dizer, dos próprios pensamentos, dos próprios sentimentos.

PUBLICAÇÃO DE POESIA

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Etel: O melhor suporte são os amigos, os editores, as pessoas que vêm para as leituras.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia? Qual o melhor leitor de seu livro de poesia? O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Etel: O que espero da publicação de meus poemas? Eu não conheço todos os meus leitores. Mas quando alguém, ele ou ela, me diz que gostou de minha poesia, sinto que minha vida é justificada. Sinto-me mais leve.

LECTURE DE POÉSIE

Sibila: Lisez vous poésie? Quel genre de poésie?
Etel: Je lis souvent ma poésie en public. Quel genre Ce que j’écris. Je suis d’origine libanaise, de nationalité américaine, ayant vécu en Californie la majeure partie de ma vie. Comme le monde arabe, d’où je viens, a  été et est jours ici et là en état de guerre, donc de destruction, il m’a été difficile d’ignorer cette situation. En quelque sorte je peux dire que c’est l’Histoire qui écrit ma poésie. Mon livre où cette situation de des plus évidente est The Arab Apocalypse, L’Apocalypse Arabe, et je lis très souvent des passages. 

Sibila: Pensez vous que la lecture de poésie produit quelque effet?
Etel: Je crois que tout ce qu’on fait a d l’impact, dans tous les domaines. La poésie émeut les gens plus que toutes les analyses politiques ou psychologiques. 

ÉCRITURE DE POÉSIE

Sibila: Qu’est ce que vous attendez en écrivant poésie?
Etel: En écrivant de la poésie j’attends surtout à clarifier mes propres sentiments et mes propres pensées. Il y a quelque chose dans l’écriture qui n’est pas oral, évidemment. Ecrire c’est comme signer, c’est s’engager soi-même d’abord à l’égard de soi-même, et bien sûr du lecteur. 

Sibila: Quel est le meilleur effet que vous imaginez pour la practique de la poésie?
Etel: La poésie a de l’effet sur les gens, un effet non spectaculaire, mais en profondeur. Elle les oblige à écouter le poète, mais aussi à écouteur eux-mêmes. La poésie secoue les gens, les déstabilisent. C’est un effet salutaire. 

Sibila: Pensez vous que votre poésie pourra avoir un certaine valeur pour le public? Lequel?
Etel: Pour écrire de la poésie il faut être souvent seul. Et avoir du courage, parce que souvent on va jusqu’au fond des choses, c’est à dire de ses pensées et de ses sentiments. 

PUBLICATION DE POÉSIE

Sibila: Quel est le meilleur support pour votre poésie?
Etel: Le meilleur support ce sont les amis, les éditeurs, les gens qui viennent aux lectures. 

Sibila: Quel est le résultat le  plus intéressant que vous attendez de la publication de votre poésie? Quel est le meilleur lecteur de votre livre de poésie? Quelle est la chose la plus intéressante qui pourrait se produire  pour vous après la publication  de votre poésie?
Etel: Ce que j’attends d’eux? Je ne connais pas tous mes lecteurs. Mais quand quelqu’un me dit qu’il ou qu’elle a aimé ma poésie, je sens que ma vie est justifiée. Je me sens plus légère.

* * *

Leia a série completa

 

Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?

But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.