Guillermo Parra sempre esteve entre o inglês e o espanhol, entre os Estados Unidos e a Venezuela. Nascido em Cambridge, em 1970, de pai venezuelano e mãe norte-americana, seus primeiros anos de vida transcorreram em uma eterna mudança entre países, forjando para si mesmo um gosto literário ambidestro que cristalizou em seus estudos de literatura. Com seu blog Venepoetics (http://venepoetics.blogspot.com), ele se dá a conhecer na órbita letrada nacional: uma iniciativa sem igual na promoção literária venezuelana que desde 2003 abre aos leitores falantes de inglês as portas não só de poetas consagrados como José Antonio Ramos Sucre, mas também de vozes jovens e de iniciativas críticas locais, através de traduções de seu próprio punho e letra. A literatura venezuelana tem no também poeta Guillermo Parra um de seus principais promotores culturais nos Estados Unidos, além de um de seus tradutores mais apaixonados.
Guillermo Parra se aproximou da literatura venezuelana nos anos 90. A leitura de poemas de Juan Sánchez Peláez, Luis Alberto Crespo ou Hanni Ossott o impactou tanto que se dedicou a trabalhá-la. Primeiro traduziu para o inglês, de José Antonio Ramos Sucre, Selected Works (University of New Orleans Press, 2012) e From the Livid Country (Auguste Press, 2012); depois se encarregou de El complot, a novela de Israel Centeno que foi editada nos Estados Unidos em 2014 por Sampsonia Way sob o título The Conspiracy. Autor de Phantasmal Repeats (Petrichord Books, 2009) e Caracas Notebook (Cy Gist Press, 2006).
- LEITURA DE POESIA
Sibila: Você lê poesia?
Parra: Comecei a ler poesia desde cerca de 1988, com dezessete anos. Hoje leio poesia todos os dias. Mesmo quando estou simplesmente revisando o Twitter ou ouvindo música, estou lendo poesia, de alguma maneira. O novo disco do raper Kendrick Lamar, To Pimp A Butterfly (2015), é uma forma de poesia que me inspirou muito recentemente, por exemplo.
Sibila: Que poesia você lê?
Parra: Leio todo tipo de poesia. Guio-me pelo instinto. Por esses dias estou lendo muita poesia estadunidense contemporânea, juntamente com a poesia venezuelana do século XX. Esta semana comecei a ler o livro da poetisa norte-americana Anne Boyer (Kansas, 1973), Garments Against Women (Boise, Idaho: Ahsahta Press, 2015). Entre os venezuelanos, estou sempre lendo José Antonio Ramos Sucre (1890-1930), Antonia Palacios (1904-2001) e Juan Sánchez Peláez (1922-2003), entre outros.
Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?
Parra: Creio que ler poesia nos ajuda a entender o mundo e nosso lugar nele. Em uma entrevista que deu a The Paris Review em 1966, Allen Ginsberg falou do efeito da poesia em nossas mentes, dizendo que “…there is a hypnotic rhythm there, which when you introduce it into your nervous system, causes all sorts of electronic changes—permanently alters it”. Concordo com Ginsberg, penso que ler poesia altera nosso cérebro, abre portas que nunca soubemos estarem lá. Ler poesia é também uma forma de viajar, de conhecer o mundo e outros seres humanos através do tempo e do espaço.
- ESCRITA DE POESIA
Sibila: O que você espera ao escrever poesia?
Parra: Espero descobrir algo de novo em mim e no mundo em que vivemos. A poesia me ajuda a entender-me a mim mesmo. Dá-me a oportunidade de enfrentar meus medos, de denunciar injustiças no mundo, explorar a realidade, os mistérios, os espíritos e as vibrações que nos rodeiam.
Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?
Parra: A conscientização. Idealmente, a poesia abre nossa mente e nosso espírito, nos aproxima mais da realidade cotidiana de nossas vidas. Também, da humildade e da solidariedade humanas. Obviamente, escrever poesia não nos garante nada disso, mas são os ideais que eu busco na escritura da poesia.
Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?
Parra: Creio que muito pouco. Minha poesia focaliza o pessoal, em momentos e sensações que registro primeiro em meu caderno e, em seguida, no poema, quando o finalizo. Embora o coletivo exista, sim, em minha poesia, nesses poucos leitores que eu possa ter, na consciência de que em algum lugar, no futuro (próximo ou remoto), algumas pessoas lerão meu texto e, quem sabe, a energia do poema as acompanhe de maneira positiva.
- PUBLICAÇÃO DE POESIA
Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?
Parra: O melhor suporte para minha poesia são as plaquetes (ou, como as chamam aqui nos Estados Unidos, os “chapbooks”). Os blogs, também, e as revistas literárias digitais. Não me interessa muito publicar livros de poesia. Porém, interessa-me publicar meus poemas na internet, e nas edições artesanais de tiragem restrita. Quero que minha poesia conserve um pouco de silêncio, que saiba mover-se através do silêncio. Isso é algo que aprendi da obra do poeta peruano Emilio Adolfo Westphalen (1911-2001): a importância do silêncio na poesia.
Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?
Parra: A amizade e a solidariedade humana entre amigos e leitores. Creio na poesia como em uma forma de comunicação através do tempo e do espaço. Idealmente, a poesia nos ajuda a entender que nunca estamos sós, que temos companheiros e amigos em toda parte.
Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?
Parra: O leitor ideal é alguém que deseja encontrar um pouco de silêncio na poesia. Um leitor que busca um antídoto contra a guerra, a escravidão, a tristeza, a morte, e a permanente tragédia de nosso mundo de hoje. Esse leitor busca uma saída, um consolo, na poesia. O leitor ideal pensa na poesia como uma forma de meditação.
Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?
Parra: Gostaria que o poema fosse algo vivo, que continuasse respirando na página ou no vídeo. Quero que meus poemas sejam uma porta. Penso no que escreve o poeta venezuelano Rafael Cadenas (1930), em seu livro Anotaciones (1983):
“Os poetas não convencem.
Tampouco vencem.
Seu papel é outro, alheio ao poder: ser contraste”.
- LECTURA DE POESÍA
Sibila: ¿Usted lee poesía?
Parra: Comencé a leer poesía desde más o menos 1988, cuando tenía 17 años. Hoy leo poesía todos los días. Aún cuando simplemente reviso Twitter o escucho música estoy leyendo poesía de alguna manera. El nuevo disco del rapero Kendrick Lamar, To Pimp A Butterfly (2015), es una forma de poesía que me ha inspirado mucho recientemente, por ejemplo.
Sibila: ¿Qué poesía lee?
Parra: Yo leo de todo. Como lector de poesía me guío por mi instinto. En estos días estoy leyendo mucha poesía estadounidense contemporánea, junto a poesía venezolana del siglo XX. Esta semana he comenzado a leer el nuevo libro de la poeta estadounidense Anne Boyer (Kansas, 1973), Garments Against Women (Boise, Idaho: Ahsahta Press, 2015). Entre los venezolanos, siempre estoy leyendo a José Antonio Ramos Sucre (1890-1930), Antonia Palacios (1904-2001) y Juan Sánchez Peláez (1922-2003), entre otros.
Sibila: ¿Leer poesía tiene algún efecto?
Parra: Creo que leer poesía nos ayuda a entender el mundo y nuestro lugar en él. En su entrevista con The Paris Review en 1966, Allen Ginsberg habló sobre el efecto de la poesía en nuestras mentes, diciendo que “…there is a hypnotic rhythm there, which when you introduce it into your nervous system, causes all sorts of electronic changes—permanently alters it”. Estoy muy de acuerdo con Ginsberg, pienso que leer poesía nos altera el cerebro, nos abre puertas que nunca supimos estaban allí. También leer poesía es una forma de viajar, de conocer el mundo y a otros seres humanos a través del tiempo y el espacio.
- ESCRITURA DE POESÍA
Sibila: ¿Qué espera usted al escribir poesía?
Parra: Espero descubrir algo nuevo de mí, y del mundo en que vivimos. La poesía me ayuda a entenderme a mí mismo. Me da la oportunidad de enfrentarme a mis miedos, de denunciar injusticias en el mundo, de explorar la realidad, los misterios, los espiritus y las vibraciones que nos rodean.
Sibila: ¿Cuál sería el mejor efecto que puede uno obtener de la práctica de poesía?
Parra: La concientización. Idealmente, la poesía nos abre la mente y el espírtu, nos acerca más a la realidad cotidiana de nuestras vidas. También, la humildad y la solidaridad humana. Obviamente, escribir poesía no nos garantiza nada de esto, pero son los ideales que busco en la escritura de la poesía.
Sibila: ¿Su poesía tiene interés público?
Parra: Creo que muy poco. Mi poesía se enfoca en lo personal, en momentos y sensaciones que registro primero en mi cuaderno y luego en el poema, cuando lo he terminado. Aunque lo colectivo sí existe en mi poesía, en esos pocos lectores que pueda tener, en la conciencia de que en algún lugar en el futuro (cercano o lejano) alguna persona leerá mi texto y quizás esa energía en el poema los acompañe de manera positiva.
- PUBLICACIÓN DE POESÍA
Sibila: ¿Cuál es el mejor soporte para su poesía?
Parra: El mejor soporte para mi poesía son los plaquettes (o como los llaman aquí en Estados Unidos, los “chapbooks”). También los blogs y las revistas literarias digitales. No me interesa mucho publicar libros de poesía. Pero sí me interesa publicar en Internet, y en ediciones artesanales de muy poco tiraje. Quiero que mi poesía mantenga un poco de silencio, que sepa moverse a través del silencio. Esto es algo que he aprendido de la obra del poeta peruano Emilio Adolfo Westphalen (1911-2001), la importancia del silencio en la poesia.
Sibila: ¿Cuál es el mejor resultado que espera de la publicación de su poesía?
Parra: La amistad y la solidaridad humana entre amigos y lectores. Creo en la poesía como una forma de comunicación a través del tiempo y el espacio. Idealmente, la poesía nos ayuda a entender que nunca estamos solos, que tenemos compañeros y amigos en todas partes.
Sibila: ¿Quién sería el mejor lector de sus libros de poesía?
Parra: El lector ideal es alguien que quiere encontrar un poco de silencio en la poesía. Un lector que busca un antídoto a la guerra, la esclavitud, la tristeza, la muerte, y la permanente tragedia de nuestro mundo hoy. Ese lector busca una salida, un consuelo en la poesía. El lector ideal piensa en la poesía como una forma de meditación.
Sibila: ¿Qué es lo que más le gustaría que sucediera después de la publicación de su poesía?
Parra: Me gustaría que el poema sea algo vivo, que siga respirando a través de la página o la pantalla. Quiero que mis poemas sean una puerta. Pienso en lo que escribe el poeta venezolano Rafael Cadenas (1930), en su libro Anotaciones (1983):
“Los poetas no convencen.
Tampoco vencen.
Su papel es otro, ajeno al poder: ser contraste.”
Poemas de Phantasmal Repeats, de Guillermo Parra
Tradução: Aurora Bernardini
Empty mind
for what
purpose
a zone
of dim
errors
a pulley
constituency
Esvaziar a mente
por qual
razão
uma zona
de erros
opacos
uma constituinte
em polias
Words come for me
in the wires invisible
the last puff surges
banana leaf moves
for the single air
A further force
inebriate&surfaced
Like the fissures across
merges — loops court
our handwritten urge
Nor the calluses on
my feet, nor the breath
shared for warmth
likewise folly
Palavras chegam a mim
nos fios invisível
o último sopro rola
ao único ar
folha de bananeira move-se
Uma força ulterior
ébria & facetada
Como as fissuras cruzadas
fusões — laços cortejam
nosso almejar manuscrito
Nem os calos em
meus pés, nem o alitar
partilhado por quentura
como a loucura
* * *
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Lugares contemporâneos da poesia
Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein
Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?
Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?
Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.
Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.
A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.
Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.
A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.
Contemporary places for poetry
There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?
But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?
Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.
Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.
The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.
Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.