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Sibila, lugares contemporâneos da poesia: Hu Xudong

Hu Xudong (Chongqing, 1974) é um poeta, crítico e tradutor, mestre em Literatura Comparada e doutor em Literatura Chinesa Contemporânea pela Universidade de Pequim, onde trabalha. É professor assistente no Instituto de Literatura Mundial e vice-presidente no Centro de Cultura Brasileira. Entre 2003 e 2005, esteve como professor visitante na Universidade de Brasília. Publicou oito livros de poesia, também prosa, ensaios, traduções de poemas e crítica de poesia. Ganhou vários prêmios, como o Prêmio de Poesia LiuLi’an, o Tomorrow-Ergun, o Top 10 Novos Poetas e o Prêmio Internacional do Rio das Pérolas.

Livros de poesia, em chinês: From Water’s Edge, Beijing: New Youth, 2001; Juice of the Wind, Beijing: New Youth, 2002; Amor en los Tiempos del SARS, Beijing: New Youth, 2003; What Time Is It There?, Hangzhou: BlogCN, 2005; The Strength of the Calendar, Beijing: The Writers Publishing House, 2007; The Eternal Inside Man, Guangzhou: Royal Media, 2010; Travel/Poems, Haikou: Hainan Publishing House, 2011; Poems of Diapers, Taipei: Showwe, 2013. Obras em prosa, em chinês: Random Words of A Random Life, Beijing: Workers Press, 2006; Go to His Brazil, Beijing: China Friendship Publishing Corporation, 2007; Eat/Think, Beijing: Law Press China, 2011; A Casual Passion in Brazil, Nanjing: Nanjing University Press, 2012.

Cf.: http://ruicunha.org/frc/?p=2804&lang=pt-pt

http://www.poetryinternationalweb.net/pi/site/poet/item/24143/14/Hu-Xudong

Leitura de poesia

Sibila: Você lê poesia?

Hu Xudong: A minha leitura de poesia divide-se em três tipos. Eu como poeta leitor, como professor de literatura leitor e como tradutor leitor.

Como poeta leitor de poesia, geralmente, prefiro aqueles poemas de alta sensibilidade, com tessituras complexas, ares de inteligência e de alegria. Como professor de literatura contemporânea comparada, leio poemas que, muitas vezes, se afastam de meu gosto pessoal, mas que me acrescentam, seja como poeta, seja pela sua importância na cena literária. Como tradutor, eu escolho aquelas poesias que se constituem como desafio à tradução ao chinês e que eu possa ler através da leitura do texto-fonte ou da tradução inglesa. Alguns poemas conseguem justamente se encaixar nessas três categorias e são os que mais aprecio.

Sibila: Você acha que a leitura de poesia tem algum efeito?

Hu Xudong: A melhor maneira de manter a vitalidade e a sensibilidade do poeta é através da leitura de poesia. Eu posso ficar até um ano sem escrever poema algum, mas não consigo ficar três dias sem ler um poema. Entretanto, sou contra escrever, logo após a leitura, impulsionado pelo sentimento evocado. Acredito que o melhor é, de maneira gradual, catalisar essa experiência mental, emocional e imaginativa para a sua vida cotidiana. Prefiro evocar diretamente o impulso da escrita, não através do que foi lido, mas através da memória experiencial.

Escrita de poesia

Sibila: O que você espera ao escrever poesia?

Hu Xudong: Espero não me sentir envergonhado pela obra. Espero que, através da escrita, eu possa tanto reverberar no mundo real, quanto chegar a uma espécie de “universo paralelo”. Isso não se refere a “atingir a perfeição”, de acordo com os parâmetros da estética tradicional chinesa, mas talvez se trate de manter, de forma permanente, uma complexa tensão com o mundo real.

Sibila: Qual o melhor efeito que você imagina para a prática da poesia?

Hu Xudong: Primeiro, é o amor pelo ofício, isto é, ter a consciência do desenvolvimento da escrita poética. Segundo, é a humildade, quer dizer, ter a consciência de que sempre há “uma montanha mais alta do que outra, uma pessoa melhor do que outra”. Terceiro, é o senso de limitação; paralelamente à exploração poética, tem de se perceber e sentir onde se encontra o limite da escrita.

Sibila: Você acha que a sua poesia tem interesse público?

Hu Xudong: Caso alguém leia a minha poesia e extraia, por si mesmo, o que nela está escondido, inclusive consiga desvelar sentidos mais interessantes nela do que eu tinha imaginado, e caso as suas descobertas façam com que essa pessoa se sinta mais entusiasmada ou lhe cause reflexão – mesmo que seja apenas um raio de luz sobre a sua alma –, com isso talvez eu possa considerar que a poesia tenha um “valor social”. Esta luz sobre a alma significa que, por um instante, as almas de dois desconhecidos apertem as mãos, em cujos dorsos está inscrita a palavra “sociedade”.

Publicação de poesia

Sibila: Qual o melhor suporte para a sua poesia?

Hu Xudong: O melhor apoio é a interação na medida certa. Talvez o olhar extasiado do público em um sarau, ou um recado engraçado deixado no meu blog, até a descoberta de alguém lendo minha antologia num avião. Quem sabe, apenas imaginar a minha poesia sendo lida em diferentes cidades, por diferentes pessoas, que sorriem ao mesmo tempo.

Sibila: Qual o melhor resultado que você espera da publicação da sua poesia?

Hu Xudong: Que o pequeno número de compradores tenha a sensação de que possui um segredo compartilhado e incompreensível para os demais.

Sibila: Qual o melhor leitor de seu livro de poesia?

Hu Xudong: Aqueles leitores que conseguem obter o prazer da leitura. Esses não precisam ser um leitor hábil em poesia contemporânea. Entretanto, com certeza, é alguém interessante e que ultrapassa a fronteira de um “aventureiro inteligente”.

Sibila: O que você mais gostaria que acontecesse após a publicação da sua poesia?

Hu Xudong: Espero que a minha poesia possa crescer pernas e andar sozinha, no seu próprio ritmo, por todos os recantos do mundo. Que a minha poesia se encontre com pessoas e fatos, namore e gere frutos com outras poesias e se divirta com as coisas. Eu e ela nos desprenderíamos. A minha poesia adquiriria uma vida própria, enquanto eu continuaria a viver a minha vida e escreveria o meu próximo livro.

HuXudong

Tradução: Marcia Schmaltz

读诗胡续冬A. LEITURA DE POESIA

你读诗吗?

我的诗歌阅读分为三部分,作为一个诗人的阅读、作为一个文学教师的阅读和作为一个译者的阅读。作为诗人来读诗,我通常选择比较符合我个人口味的那类诗歌,它们一般有着尖锐的感受力、复杂的肌理和欢愉的智性色彩;作为一个讲授现代诗歌的大学比较文学教师,我也必须读很多和我自己的趣味差别比较大,但对于诗歌这门手艺有着突破性意义,或者已经成为重要的阅读现象的诗歌;作为一个译者,我会选择那些翻译到汉语里去比较具有挑战意义而我又能勉强通过原文或者英译本来读的诗歌。会有一些诗人的诗歌碰巧处于三种阅读的交集,我会对他们的作品格外珍视。

你认为阅读诗歌会产生什么影响?

阅读诗歌是让一个诗人保持旺盛的心智活力和细致入微的同情心的最佳方式。我可以长达一年不写诗,但无法做到三天不读诗。但我也反对读完诗以后将阅读感受直接转化为写作驱动力的“阅读式写作”。我认为最好的方式是每读完一首诗,就把它对你的心智、情感、想象力的催化作用“缓释”到你的日常生活中,直接唤起写作冲动的,不应该是阅读过的文本,而是已经将读过的诗歌稀释在经验和记忆中的生活本身。

写诗B. ESCRITA DE POESIA

你对写诗有何期待?

期待自己写出来的作品不会让自己觉得难为情,期待通过写作能把自己带进一个既与现实世界共振又自成一体的“平行宇宙”。这个“平行宇宙”并不是中国传统美学所说的“臻于化境”,它或许会一直和现实世界保持着复杂的张力。

在你看来,什么是研习诗歌带来的最佳效果?

一是敬业感,知道作为一门手艺的诗歌已经有了怎样的积累;二是谦卑感,明白“山外有山,人外有人”;三是限度感,在不断探索的同时,也能清晰地感受到写作的边界在哪里。

你认为你的诗有社会价值吗?

如果有人读了我的诗,以他(她)自己的方式挖出我的诗里所埋藏的东西,甚至挖出了比我埋藏的东西更多更有趣的东西,如果这些东西让他(她)感到了兴奋并令他(她)若有所思,即使只是片刻的心灵波光,我也觉得这或许就是“社会价值”。这片心灵波光意味着一个人和一个陌生人短暂而热烈的灵魂握手,正是这样的握手从背面撑起了“社会”这个词。

出版诗歌 C. PUBLICAÇÃO DE POESIA

在你写诗的过程中,最好的支持是什么?

最好的支持是一种恰当的交流感,它或许是诗歌朗诵活动中听众出神的眼神,或许是网络上跟在你的诗歌后面的有趣的回帖,或许是当你坐在飞机上发现有人在读你的诗集,或许仅仅是一种猜测:你猜测你的诗正在不同的城市让几个互不相识的人同时会心一笑。

你对你诗歌出版所期待的最佳结果是什么?

让为数不多的购买者觉得他们共同拥有了一个其他人无法理解的秘密

谁是你的最佳诗歌读者?

能够体会到诗歌阅读快感的任何读者,不一定是一个训练有素的现代诗歌读者,但一定是个既有趣同时又超越了有趣的“心智冒险者”。

你最希望你的诗出版后会发生什么?

我希望我的诗集自己长出一双善于长途跋涉的双腿,不紧不慢地在这个地球上到处去溜达,去碰见它该碰见的人和事,去和其他人的诗集甚至其他任何一种好玩的东西谈恋爱、生孩子。我和它会“相忘于江湖”,它有了它自己的生命,而我却要继续过我的日子、写我的下一本诗集。

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Lugares contemporâneos da poesia

Concepção do projeto: Alcir Pécora e Régis Bonvicino
Texto introdutório: Alcir Pécora
Realização: Régis Bonvicino, com a colaboração de Aurora Bernardini e Charles Bernstein

Há reiterados momentos do contemporâneo em que a prática da poesia se parece exatamente apenas uma prática, uma empiria, uma rotina. Faz-se poesia porque poesia é feita. Edita-se poesia porque livros de poesia são editados e foram editados. Por que não continuar editando-os?

Mas qual o significado da arte, quando a arte se reduz a empiria, procedimento habitual que não problematiza os seus meios? Que deixa de inventar os seus próprios fins? Que não desconfia de sua forma conhecida, nem arrisca um lance contra si, inconformada?

Para tentar saber o que pensam a respeito da poesia que produzem alguns dos mais destacados poetas estrangeiros em ação hoje, a Revista Sibila propôs-lhes algumas perguntas simples, primitivas até – silly questions! –, cujo escopo principal é deixar de tomar como naturais ou óbvios os automatismos da prática.

Trata-se de saber dos poetas, da maneira mais direta possível, o que ainda os move a ler, a escrever e a lançar um livro de poesia – ou, mais genericamente, a publicar poesia, seja qual for o suporte.

A condição de, por ora, ouvir apenas os estrangeiros é estratégica aqui. Convém evitar respostas que possam ser neutralizadas a priori por posicionamentos desconfiados de vizinhança.

Leitura de poesia, esforço de poesia e publicação de poesia: nada disso é compulsório, nada disso se explica de antemão. Tudo o que se faz, nesse domínio, é fruto de exigência apenas imaginária. Nada obriga, a não ser a obrigação que se inventa para si.

A revista Sibila quer saber que invenção é essa. Ou seja: o que os poetas ainda podem imaginar para a prática que os define como poetas.

Contemporary places for poetry

There are plenty of moments in our current life when the practice of poetry seems exactly a practice, something empirical, a kind of routine. One makes poetry because poetry has been made. One publishes poetry because books of poetry are published and were published, why not going on publishing them?

But what meaning does art have when art is reduced to empiricism, the habitual procedure which doesn’t discuss its means? Which doesn’t any longer make up its own aims? Which is not suspicious of its usual form, nor runs the risk of a move against itself, unresigned?

Trying to know what some of the most distinguished foreign poets in action today think about their own poetry, Sibila proposed some very simple questions, some naïve questions – silly questions! –, whose principal aim is no longer to consider as natural ( as obvious) the automatisms of the poetical practice.

Sibila asks the poets to tell in the more direct way what still moves them to read, to write, to publish a book of poetry – or, more generically, to publish poetry, in whatever support.

The choice, for the moment, to listen only to foreign poets’ voice is a strategic one. It’s better to avoid answers which would be neutralized a priori, due to suspicious neighbourly attitudes.

Reading poetry, straining to write poetry, publishing poetry: not at all compulsory, all this, not at all explainable in advance. Everything you do in this domain is the result of mere imaginary exacting. Nothing obliges you, unless the obligation you invent yourself, for yourself. Sibila wants to know what kind of invention is that. Id est: what poets may still make up for the practice which defines them as poets.